sábado, 12 de março de 2011

Memórias Tecnológicas - Parte II


A Doença dos Macintosh

No início dos anos 90, recebi um convite que viria a revolucionar a minha vida: um curso de iniciação aos computadores! Para mim, um computador era algo misterioso que via na televisão, algo muito diferente duma máquina de escrever e que já fazia parte do meu imaginário. Na altura, penso que já ouvia falar nos termos teclado, monitor e MS-DOS, mas era apenas uma criança a iniciar o ensino secundário, nunca tinha estado perto dum computador, a não ser do velhinho Spectrum, um teclado com um leitor de cassetes que, uma vez ligado à TV, servia para jogar montanhas de joguitos pixelizados, monocromáticos, mas que me prendiam por horas ao televisor e ao joystick. Lembro-me da eternidade que demorava um jogo a entrar naquele pequeno aparelho de 128K, e do ruído que aquilo fazia, mas sentia uma alegria imensa quando aparecia a imagem do jogo. Títulos como “Brutagueño” ou “Paradise Caffe” faziam parte das minhas preferências…

Mas vamos ao que interessa! O curso teve lugar na Escola Secundária António Nobre, no Porto. Quando vi a sala pela primeira vez, fiquei encantado! Havia nas mesas alguns caixotinhos com pequenos teclados à frente e um outro dispositivo com um botão que eu desconhecia, mas logo percebi que eram ou computadores! O teclado já tinha a minha tão familiar grelha especial, e eu podia começar a mexer naquela coisa! Era o Macintosh, a máquina que revolucionou o mundo da informática! Intuitivo, versátil, depressa aprendi o que era um rato, um drive de disquetes, um ecrã. Os ícones e as janelinhas faziam do sistema Mac, algo fácil de apreender para um miúdo esperto de 12/13 anos! Como a minha deficiência não me permite utilizar o rato, adaptei-me bem ao método que consiste em mover o cursor através das teclas numéricas do teclado! Fácil e eficaz, ainda hoje é assim que trabalho. Programas como o MacWord, o Excel e o MacPaint, abriram caminho para a consolidação de uma certeza: aquilo seria o meu futuro! A emoção que sentia ao tocar em cada tecla é indescritível, e no final de cada sessão podia imprimir o meu texto, gráfico ou desenho! Era um troféu que levava para casa.

Tornara-me num verdadeiro utilizador Macintosh a partir do momento que vou para a Escola Secundária de Leça da Palmeira frequentar o 8º ano. Lá, havia uma sala denominada “Projecto Minerva” onde tinha computadores, mas um em especial, era reservado para minha exclusiva utilização, um Classic, pois então, que me auxiliava nas aulas de apoio e nos tempos livres! Era a oportunidade de pôr em prática os conhecimentos adquiridos na Escola António Nobre, e o desenho era a minha actividade favorita. Nesse mesmo ano já trabalhava com o Photoshop 1.0, um software inovador que permitia dar asas à minha criatividade. Nesse ano lectivo, elaborei 4 calendários de bolso alusivos a monumentos do concelho de Matosinhos e foram um sucesso! Só num Mac era possível fazer aquilo, já que os tradicionais PC’s ficavam a milhas na componente de edição gráfica. O preto e branco continuava a reinar num interface que ganhava cada vez mais adeptos em Portugal. Nessa mesma sala havia uma impressora de agulhas Apple, barulhenta mas de boa qualidade! Outros programas que tinha instalados eram, por exemplo, o PageMaker e o KidPix para fazer umas coisas engraçadas. Também tinha alguns jogos como o Tetris e o Bricks...

Quando olhava para os “monstros” do lado, pareciam-me ridículos os ecrãs todos pretos ou azuis só com letrinhas brancas! O MS-DOS era realmente pouco atractivo para quem se habituara ao sistema das janelas. CPU’s horizontais, monitores grandes, desses 386 só gostava dos teclados com muitas teclas brancas e cinzentas! Claro que tinha curiosidade em perceber como aquilo funcionava e até aprendi alguns comandos básicos do DOS, mas nada que me encantasse! E a impressora de agulhas ligada a um PC?! Imprimia naqueles rolos de papel fininho com buraquinhos picotados laterais. Esses computadores eram Unisys ainda com ecrãs TGA!

1992, 9º ano, um Mac lá para casa vinha mesmo a calhar! Consegui um fabuloso Macintosh LC que custava uma pipa de massa na altura, cerca de 400 contos (2000 euros)! Comparado com um carro, era um Porsch! Pequeno, diferente e a cores, foi uma inovação na minha forma de trabalhar. Utilizava o Sistema 7, tinha ecrã de 12 polegadas com muito boa resolução, disco de 40 megas (bem bom), 8 megas de memória RAM, placa de som e microfone, enfim, uma autêntica inovação na minha vida! Também tive uma impressora a jacto de tinta preta: a Apple StyleWriter, com uma qualidade superior e silenciosa. Nunca sonhara com aquele paraíso no meu quarto, era como se tivesse ganho o totoloto ou algo parecido J! Começaram a surgir desenhos mais coloridos já com o Photoshop 2.0. Falando em software, era muito difícil arranjar programas para o Mac, já que custavam uma fortuna, a minha salvação era a minha professora de História, também ela dona dum Macintosh, e lá me gravava umas disquetes, fundamentalmente com joguinhos. Quem não se lembra dos Lemmings, do Prince of Persia e dos jogos de naves que, jogados no LC, tinham já gráficos e sons atractivos…

Será difícil esquecer o símbolo colorido da maçã ratada! Representou imensos sonhos de um jovem adolescente! Estava colada nas capas da escola, nos livros, na cadeira de rodas, enfim, nos demais objectos pessoais!

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